Há uma semana eu estava extremamente inquieta, ansiosa como uma criança que espera o dia de abrir os presentes do Natal. E o motivo – banal, para alguns – era um só: a neve. A previsão do tempo era bem incerta e não haviam falsas promessas. Mas quando via o desenho dos tais flocos na TV eu me enchia de esperança. É hoje! Hoje neva. E no supermercado, na padaria, nas lojas, lançava o “papo de elevador”: Nossa, como está frio, não? Oui, oui. C’est froid, madame! Mas não era isso que eu queria ouvir. Não, não era apenas uma questão de ouvir. Queria encontrar alguém com quem compartilhar, alguém que estivesse no mesmo barco que eu, que partilhasse do mesmo sentimento. E eu continuava me comportando como uma criança, agora encontrando subterfúgios para levantar da cama durante a madrugada. Beber água, ir ao banheiro, passar hidratante nos cotovelos ressecados, vale tudo para dar uma espiadinha na janela. Mas nada, nada de nevar. O frio estava de doer, castigando o rosto e as mãos. E quando a semana estava chegando ao fim, na tarde de sexta, ela veio me presentear. A neve chegou e corri para a rua para recebê-la, emocionada. Ela foi breve, mas nos divertimos. Fiquei com o peito apertado. Ela ainda não voltou. Alguém entendeu muito bem o que se passou comigo e ontem me enviou a foto acima, com o título “L’amour”. Estamos todos no mesmo barco. É um triângulo amoroso… não, não! Um quadrado amoroso: meu marido, eu, a neve e Paris. Devo estar delirando.
Clau Gazel
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