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  • Writer's pictureClau Gazel

A viagem de cada um: reflexão sobre o papel da mídia atual


A Viagem Certa_a viagem de cada um

Um comentário delicioso me colocou de cara com o nome do blog e fez minha mente girar. Lembranças em torno do começo desta aventura, que já dura 7 anos.

Na busca pela fidelidade ao meu leitor, continuo a masturbação mental em torno do tal nome que, em volta de uma lareira em São Paulo, criou discussão entre amigos e familiares. A Viagem Certa. Mas o que é certo nesta vida? Já dizia o poeta português Fernando Pessoa que a única certeza é não ter certeza. Por que então A Viagem Certa?

Que certeza é essa que dá sobrenome ao meu blog? À quem ela pertence, se é que tem dono? Ela é única e exclusivamente minha, e nasce no momento em que tomo a decisão de partilhar uma descoberta e transformá-la num artigo. Mas ela não é apenas unilateral; ela é sobretudo efêmera. Não há garantia de que amanhã as lojas de antiguidade da rue Saint-Paul ou as galerias da rue François Miron continuarão ali e, se o fizerem, não existe também a certeza de que ainda exercerão o mesmo efeito sobre mim  ou quem quer que seja, leitor do blog ou não.

O amanhã nada mais é do que este ilustre desconhecido a quem abrimos a porta e, num golpe, se disfarça ou se renova continuamente. Há quem diga que essa é a graça da vida: o desconhecido, o misterioso e o incerto. E quando é disso que se tem sede,  é numa viagem que se busca o novo, o diferente… bebendo em outras fontes. Sábio Amyr Klink, viajante convicto: Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar, por si, com os olhos e pés, para entender o que é seu.

Não virei filósofa. A razão deste meu breve devaneio – ou deste click de pura lucidez – após 7 anos de dedicação a este blog é simples. Me questiono a cada dia sobre a utilidade do que faço e o prazer que sinto a cada novo texto.

Continuo a escrever cada linha pautada pelos meus sentimentos mais íntimos e pelo respeito ao leitor. A autenticidade de cada dica eu garanto pelos meus olhos atentos e meus dedos nem tão ágeis assim. Mas a certeza da sua viagem, não. O seu gosto, o seu paladar, o seu sentimento é só seu. A minha viagem não é certa nem para mim. Quem dirá para você.

Ler, se informar, ver fotos, trocar emails com os amigos e assistir documentários é super saudável e estimula essa vontade incontrolável de conhecer um novo destino, provar novos sabores e ter novas experiências. No entanto, a proliferação de blogs, aplicativos e de redes sociais deixa cada vez mais claro que a tendência de se seguir uma lista “imposta” por ditadores de modas é absorvida por “seguidores”de moda. Listas se proliferam e são ingenuamente repassadas – e copiadas – quase como um ato de obediência hierárquica.

Não questiono a praticidade de bater os olhos numa lista de classificação com estrelas, corações ou seja lá qual símbolo e, em um ou dois cliques decidir o próximo endereço a visitar. Mas quando isto se torna um automatismo, isento de qualquer análise subjetiva, falta o essencial: a vontade própria. Conhecer é cortar, é selecionar dissera Humberto Eco ao comentar o surgimento dos donos das verdades nas mídias sociais.

Numa época em que as discussões acerca do papel da mídia andam tão inflamadas, cabe a cada um de nós questionar o quanto sua subjetividade é verdadeiramente sua ou é produzida pelas tais lista classificatórias.

Sendo você mesmo – entenda-se aqui o seu eu, e não aqueles “eus” que a mídia te dá licença para adotar – sua viagem será certamente A Viagem Certa.

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