Durante toda a semana passada choveu muito em Paris. No sábado, dia 28 de maio, eu estava em um caminhão voltando da Ikea e me senti como se estivesse na marginal em São Paulo. Nunca vi tanta água e tanto trovão nesta cidade. Pessoas foram atingidas por um raio neste mesmo dia no Parc Monceau, enquanto festejavam aniversário de uma criança. Tristeza imensa.


Fotos: Elisa Darriet, uso exclusivo A Viagem Certa
Realmente foi horrível. Foram 4 dias de chuvas ininterruptas. O Sena subiu muito, e a velocidade com que subiu é incrível. Ocorre que desde domingo, 29/05, comecei a receber emails e mensagens perguntando como eu estava, por conta da enchente em Paris. E, assim como na época dos atentados, senti imensa vontade de colocar os pingos nos “is”. Afinal, moro a 200 metros do Rio e estou aqui, seca e salva. E me perguntei o que encontraria nas notícias Brasil afora, já que sinto uma euforia enorme vinda daí, que não é a mesma de quem está aqui, tomando a chuvarada na cabeça.
Fucei. Li sites, jornais. Conversei com amigos. Li mais. E o quebra-cabeça me parece mais simples do que pensava. Com uma manchete trágica, se vende muito mais. No geral, as manchetes são exageradas e os textos deixam espaço para a interpretação de que a cidade está inundada, os museus com água entrando pela porta da frente, pessoas correm da água que avança ferozmente. Não encontrei nenhuma frase dizendo: não, Paris não está inundada. Outras cidades na França, sim.
Voilà minha conclusão: a mídia, omitindo detalhes relevantes, “quase” engana e o leitor que, ávido por mais uma tragédia e carente de tempo, lê a manchete e se deixa enganar. E como quem conta um conto, aumenta um ponto, explica-se a euforia de quem vê de longe um evento como esses.
Pois uma coisa é fato: choveu demais, mas não, Paris não está e não ficou em nenhum momento “debaixo dágua”. O rio transbordou, ou seja, ultrapassou suas bordas. No entanto, o rio é baixo, tem uma boa margem para chegar a atingir as ruas. Para chegar no nível que atingira em 1910 ele precisaria ainda subir mais 3 metros.
Lógico que impressiona. As margens onde os piqueniques acontecem foram totalmente tomadas e nem parece que estamos a menos de 20 dias do verão. Mas repito: Paris não está e não ficou alagada. Ainda bem!
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